Muito já se escreveu sobre a reforma administrativa, muito se escreve e muito mais se escreverá.
De forma resumida, de um lado da barricada estão os que dizem não fazer sentido a extinção ou agregação de realidades, leia-se freguesias, diferentes. Que se irá perder identidade.
Do outro, os que entendem que algumas freguesias não têm razão de ser, que bem podem desaparecer que na prática não se irá notar qualquer alteração.
Pegando num dos casos deste concelho, S. Julião e Buarcos, é lógico que se está perante dois "mundos".
Também é sabido que poucos são os dizem «Vou a São Julião e já volto...». Dizem, sim, «vou à Figueira e já volto». Ou seja, para a maioria S. Julião não existe.
E diga-se o que se quiser, o bairrismo é coisa rara. Só nestas alturas se levantam algumas vozes.
Outros defendem que S. Julião não pode acabar porque a Junta desempenha, no silêncio e recato (por acaso, nem sempre!!, mas isso é outra conversa), um valioso e meritório trabalho na Ação Social.
Mas pergunto eu se este mesmo trabalho não poderá ser realizado pela tal nova estrutura a criar?
Dir-me-ão que o autarca de Buarcos (e só falo de Buarcos porque a proposta aponta para aqui a sede) não conhece a realidade a fundo de S. Julião. Pois, é possível que não. Mas também quem lá agora está não conhecia e ficou a conhecer.
E então as técnicas de acção social ? Não poderão elas, supervionadas pela Junta, dar seguimento aos processos?
Dir-me-ao também que S. Julião não quererá ficar sob a dependência de Buarcos (pela mesma razão da sede). Não será isto uma falsa questão? Para que importa a estrutura organizativa, burocrática, desde que as «coisas» funcionem? Alguém acredita que se deixará de apoiar um cidadão com fome só porque é desta ou daquela freguesia?
Bem, toda esta conversa poderá até fazer algum sentido. Não fosse um pormenor: a questão política.
É que o partido que eleger o futuro «super-presidente» terá muita força.
E o que perder as eleições (ficar em segundo) ficará num estado de coma político-partidário. Nem é nem deixa de ser...
Daí que por mais razões que se invoquem (bairrismo, identidade, história, tradição, etc., etc), tudo passará apenas pelas alterações das políticas no modelo de gestão autárquica.
Porque a história de um povo (freguesia), a sua tradição e história não se apagam num ato eleitoral. O Coliseu continuará a ter as suas touradas, a Igreja Matriz as suas missas, o São João do Vale as suas festas e tradições, o Santo António não sairá da Misericórdia, os Reis continuarão a juntar-se na «lapinha», o Ginásio, Naval e Sporting continuarão a jogar, as escolas ficarão onde estão.
As Abadias na mesma, o oásis idem.
Ou seja, o que muda? Nada. Continuaremos a ir ao Din's beber um fino ou comer uma francesinha à Bijou.
Apenas a gestão autárquica (limpezas de ruas, valetas, festas, carnavais, festivais, apoio social, emissão de documentos e atestados) terão um outro formato.
A vida irá continuar tal como a conhecemos.
E já agora, aqui fica o parecer da Unidade Técnica para a Reorganização Administrativa.
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