sábado, 15 de setembro de 2012

Hoje, em 2012, tenho o futuro hipotecado

Hoje, em 2012, tenho menos liquidez financeira do que há 10 anos atrás. O aumento salarial não acompanhou a escalada sem fim do aumento do preço dos bens alimentares, dos serviços (água, luz, gás) e da gasolina. Por outro lado, os compromissos financeiros (créditos) firmados anos atrás não diminuíram e hoje, em 2012, com menos dinheiro, temos de nos virar para todos os lados possíveis para cumprir as obrigações. As instituições não querem perceber a alteração imposta a (quase) todos os portugueses e lançam telefonemas atrás de telefonemas a reclamar pagamentos. Chegam ao cúmulo de dizer para pedirmos dinheiro emprestado a um familiar ou amigo. Ameaçam com o registo do nosso nome no Banco de Portugal. Mas será que não percebem que esse é, para grande parte dos portugueses que só espera sobreviver até ao fim do mês, um problema menor? Vão fazer o quê? Despentear-nos? Hoje são muitos os que, apesar das dificuldades, não fogem às suas obrigações e querem viver de forma honrada e digna. Mas é preciso compreensão de quem está do outro lado. O que nem sempre acontece. Hoje, em 2012, temos cidadãos a trabalhar e alguém, numa «esquina» qualquer, à espera para lhes sacar parte do salário. Como se de um assalto se tratasse. Uma, outra e outra vez, subtraem-nos liquidez financeira. Deixam o comum do cidadão sem dinheiro para pagar o empréstimo da casa, a compra do carro, a pensão de alimentos, o material escolar dos seus educandos. E até as refeições se tornam escassas, neste ciclo de poupança à força. Hoje, o comum do cidadão, não perde tempo a pensar onde irá de férias, mas sim como fazer esticar o dinheiro. Hoje, em 2012, temos idosos (que muito de si deram durante décadas a fio) a passar fome. A ter de pedir comida e roupas. Não têm dinheiro para medicamentos e nem para uma ida ao centro de saúde/hospital. Tentam apenas que a morte tarde. Outros pedem que ela chegue mais cedo, acabando com o sofrimento a conta-gotas. Hoje temos um patronato (com raras exceções) a recorrer às leis criadas a pensar no topo e não nas bases para despedir a torto e a direito. A recorrer à chantagem do despedimento para reclamar mais horas, mais trabalho e menos retribuição financeira. A roubar, sim, é este o termo, a roubar cobardemente direitos conquistados. Não percebe que o vigor das empresas, a produtividade que se quer, assenta na força das pessoas. Um trabalhador que se sinta minimamente recompensado pelo seu esforço certamente que irá tentar fazer muito mais. A motivação é uma força menosprezada. E uma empresa assente na força dos seus funcionários mais facilmente sobrevive à crise. Hoje tentam retirar-nos margem de pensamento. Dizem que devemos falar, debater, dizer o que nos vai na alma. Enfim, comunicar a bem do país, de uma democracia conquistada em Abril. Mas na verdade não querem ouvir. Não querem, não aceitam, novos olhares, novas visões assentes noutras experiências de vida que não seja a deles. Sentem-se incomodados com a verdade, apesar de pregarem o contrário. Hoje quem manda julga ter do seu lado toda a razão. E esquecem-se de que vivem em «aquários» criados pela própria limitação mental. Poucos há que conseguem olhar mais além. Hoje, em 2012, somos roubados de todas as formas possíveis e imaginárias. Contudo, a maior violência surge com a tentativa de castração mental. Quando tentam nos impedir de pensar, de reagir, de tomar um partido. De agirmos como seres pensadores. Que vivem e sentem. É contra isto tudo que devemos dizer não. A história tem-no demonstrado: mais cedo ou mais tarde, todos os ditadores terão um triste fim. Dado pela humanidade ou pela divina graça de Deus. Tenho essa esperança. Porque hoje, em 2012, tenho o futuro hipotecado. Pior, o futuro dos meus filhos é uma incerteza. Mas quero acreditar que isto muda. Que o povo, junto às urnas de voto, tentará inverter o rumo.

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